segunda-feira, 30 de abril de 2012

O apelo de Jesus para que os políticos cuidem das vítimas da seca

Perfeito na escrita, inteligente, virador e vencedor, meu conterrâneo Jesus de Miúdo apela aos homens da política…
Pede atenção para que as vítimas da seca possam sobreviver nesse ”ano de 12”, como diz Jesus, certamente numa alusão àquele 12 tão falado pelo sertanejo, o 1912, que ficou cravado na história do homem do campo como o pior ano de suas vidas.
Quem não já ouviu falar na ‘fome de 12?’…
Coincidentemente, o 2012 desponta com ares de desgraça e medo, e é para escapar de tudo isso que Jesus, em nome de Deus, apela aos políticos.
E começa pedindo ajuda àquele a quem deu o voto.
Eis a carta de Jesus ao deputado federal João Maia, mas que deve ser encaminhada à toda a bancada potiguar, já que uma andorinha só não faz inverno. Encaminhada aos políticos que se elegeram, não com o voto de Jesus, mas com o votos de Maria, de José, de Madalena, de Judas…
A seca é de todos.
O desabafo abaixo foi publicado no blog que Jesus mantém na internet, o www.acaridomeuamor.nafoto.net

De carta aberta para João Maia
Ontem foi comemorado (mas por quem?) o Dia da Caatinga.
Tanto já disse sobre ela, tanto já se escreveu, tantas rimas, tantos versos, tantas foram as declarações de amor… Tantas preocupações!
Ariano Suassuna, mestre sertanejo por excelência, disse com a categoria dos que entendem de tudo um muito que “as pessoas que acham o sertão feio, normalmente, são da Zona da Mata ou são da cidade. Então, são habituadas a um tipo de beleza que é mais ligado à graça. A Zona da Mata é bonita também, mas a beleza da Zona da Mata é ligada ao gracioso. A beleza do sertão é ligada ao grandioso. Ele é grandioso e terrível incestualmente, o que dá à beleza dele uma conotação muito diferente, muito estranha, mas muito forte.”
*
Ô, Meu Deputado, para quem direciono todas as minhas preocupações,
Macho, vou tentar ser curto.
Segundo as profecias de Raimundinho Guilherme, vaqueiro aposentado, octogenário como homem do campo, analista admirador das coisas do sertão, bem como um estudioso autodidata da natureza, vizinho nosso de frente na Rua Major Hortêncio, lá no Acary do amor de todos nós; pois bem, segundo ele a seca tem só mais alguns dias para combater e vencer de vez o inverno neste ano de doze. Ele me disse ainda em janeiro que choverá tarde, depois de meados de abril, já bem próximo de maio “como ocorreu em 2006”, acrescentou. Nisso me seguro, agarrado aos últimos galhos verdes da esperança.
Lendo outro dia a coluna Jornal WM – de Woden Madruga, como sertanejo que sou e preocupado com o meu povo plantando e criando, cheguei à triste constatação que as pessoas ainda não estão se dando conta da gravidade da situação. O problema da seca deve ser encarado com uma política pública definitiva, e bem estruturada, de uma vez por todas! Infelizmente não é o que vemos. E eu não quero dizer aqui o velho chavão “rende votos”, porque esse pensamento chega a ser desumano. Vejo poucos expressando preocupação. Os políticos cada vez mais usam de manhas e artimanhas geradoras de fotos para a mídia, hoje recheada de blogues, e só! Quem nos dera uma estiagem de décadas, não faltando chuvas, mas uma estiagem daquele tipo de político andando nas nuvens, entre o céu potiguar e o candango.
Meu amigo Pedrinho de Dona Bel de Dr. Pedro, vaqueiro, filho de vaqueiro, criador e proprietário, embora vivendo no litoral pelos ossos do ofício de bancário, joga a flecha da preocupação quando afirma que “a zona rural do Seridó vai ser desertificada de gente. A caatinga continuará sua saga de resistência, mas o homem do campo receberá o golpe de misericórdia”. Tomara que sua fala não tenha o augúrio certeiro das premonições do seu Tio Zé Gonçalves, o poeta.
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Paralelamente a essa medonha seca ora vista e sentida, a seleção genética está sendo engolida literalmente junto com feijão e farinha; com décadas de trabalho e pesquisas servindo de sobremesa. Ninguém enxerga o desastre absurdo sob a negligência de alguns. Um prejuízo tão grande ocorrendo, sem que apareça um cristão de voz grossa ou tosse alta para chamar à atenção e abrir os olhos de todos. A apatia de todos impressiona Jesus, Pedro, Raimundo e todo mundo! Menos alguns homens públicos. No RN a maioria dos homens públicos está alheia a tudo isso. Sem noção absoluta de nada!
Causa-me uma tristeza medonha receber o telefonema do meu amigo Itinho Cocão, jovem criador, quase menino ainda, à meia noite choramingando ao celular e me dizendo que faz planos de vender tudo e ir tentar a vida em São Paulo.
O paliativo de oitenta reais mensais, sugerido pelo Governo Federal, é uma afronta e um desrespeito à dignidade do homem sertanejo.
Nada planto, nada crio. Minha planta é a esperança, mas suas folhas caem nesse outono severo de homens com poucas ações. Meu gado é tão somente meus pensamentos em melhores dias, e a ração que lhes dou são as folhas da esperança em ver o meu povo melhor vivendo, com dignidade e paz de espírito.
Ô, velho João Maia de tantos invernos e secas, também sertanejo como eu, cabra bom e em quem deposito minhas últimas folhas verdes de esperança na boa vontade dos homens públicos, quanta falta faz um como Monsenhor Expedito. Um homem simples! Um cravo da bondade empenhado nos problemas do seu meio.
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A rosa que aí está, bom amigo, não necessita muito lá das águas das chuvas para sobreviver. Talvez seja aguada com águas minerais de marcas importadas. O seu jardim, digo da rosa, tem sido um governo de mau gosto com ervas daninhas crescendo para todos os lados.
Tomara que apareça um jardineiro e resolva cuidar do que ainda dá para escapar.
Pedindo perdão pelo desabafo,
Jesus de Rita de Miúdo, seu eleitor anteontem, ontem e amanhã.fonte thaisa galvao

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