O governador Cid Gomes reuniu os 22 partidos da base aliada para
que as lideranças apresentem uma avaliação da gestão e apresentem
propostas para o plano de Governo. A convenção do PROS fica mantida para
o dia 29 de julho
Foto: Tuno Vieira
"Essa não é uma reunião para definir candidaturas. Se alguém tinha essa expectativa, não é para definir. Sempre colocamos isso, não é conversa da boca pra fora", declarou, ontem, o governador ao chegar a um evento no Marina Park Hotel, em Fortaleza, onde representantes das 22 siglas aliadas o esperavam. Cid chegou acompanhado do prefeito Roberto Cláudio e de três pré-candidatos do PROS ao Governo: Domingos Filho, Zezinho Albuquerque e Leônidas Cristino.
Cid Gomes minimizou a impaciência dos aliados em saber quem será o candidato que vai liderar a coligação apoiada por ele. "Nós estamos aqui para conversar, dialogar e trabalhar uma estratégia juntos. O que estamos fazendo aqui é o que já tínhamos programado", salienta.
"Mais importante do que um candidato - respeito as pessoas muitas vezes não votarem em partidos nem terem muita atenção a compromissos -, mas, para nós, mais importante do que o nome é o programa", completa.
O chefe do Executivo ressaltou que todas as legendas da base do Governo fizeram, nas duas últimas semanas, avaliações sobre a gestão estadual. "A partir disso, vamos começar a definir o conjunto de diretrizes onde a gente possa assumir um conjunto de compromissos com a população cearense", informou.
Coletivamente
O gestor negou que esteja sendo antidemocrático com as agremiações. "Não sou daqueles que têm uma posição pessoal definida e vai impor essa posição pessoal aos outros. Sempre procurei, ao longo da minha vida, construir coletivamente", destacou.
Questionado sobre a repercussão da pesquisa Ibope, Cid reforçou que os dados não expressam o período eleitoral, porque, segundo ele, a maioria das pessoas ainda não está interessada pelo tema. "Ninguém faz nada sem ver pesquisa, sem acompanhar pesquisa. Agora, tem um jargão popular que diz que pesquisa é retrato de um momento e esse momento não é imutável, não é um momento que se perpetuará", justifica.
O deputado Mauro Filho e a ex-secretária da Educação Izolda Cela, ambos pré-candidatos ao Governo, não estavam no encontro. O primeiro foi a um seminário do PROS em Brasília. Já Izolda apresentou razões pessoais para faltar ao evento.
Silêncio exalta personalismo
A demora na escolha do candidato ao Governo do Estado que será apoiado pelos partidos que dão suporte à gestão Cid Gomes já incomoda até os aliados mais próximos do governador. Historiador e cientistas políticos ouvidos pelo Diário do Nordeste comparam o cenário atual a outros períodos da história cearense. Estratégias de campanha, personalismo e mal estar gerado com ex-aliados estão entre os complicadores do processo eleitoral.
A professora de ciência política Carla Michele Quaresma, do Centro Universitário Estácio do Ceará, acredita que o governador cearense está testando a recepção dos pré-candidatos do PROS diante do público. "Eles vão jogando os nomes para ver como o candidato se comporta e como a população reage", afirma Michele. "Com certeza ele sabe quem é o candidato, as negociações já foram costuradas".
A cientista política relata que, nos anos 1980, quando Tasso Jereissati - que era presidente do Centro Industrial do Ceará (CIC) - aparece na cena pública, ele foi construindo uma imagem para depois apresentar-se candidato ao Governo. "O discurso dele era desinteressado, mas tinha o espírito público", diz. "O eleitor não gosta do indivíduo que diz que é candidato. Dizer que é desinteressado agrega capital político. É da política brasileira ficar adiando", completa.
O professor de História do Ceará Márcio Soares avalia que o silêncio de Cid Gomes não é favorável ao processo democrático, pois deixa as agremiações aliadas excluídas da decisão de discutir efetivamente a candidatura. "A posição do governador é anacrônica e tem incomodado até os partidos aliados. Eles querem que apresse o nome para que possam se organizar. Não é saudável, porque a situação pleiteia definições", alega.
Coronéis
A memória do historiador retorna ao ano de 1982, quando os três coronéis mais expressivos do Ceará à época, Adauto Bezerra, César Cals e Virgílio Távora, reuniram-se em partidos diferentes e escolheram quem seria o nome que o trio apoiaria para suceder Virgílio nas primeiras eleições diretas do Estado.
Apoiado pelos três coronéis, Gonzaga Mota foi eleito governador do Estado. "O novo governador estava saindo da cartola do ex-governador. Embora se fale de um processo coletivo, é balela, porque o candidato vai sair do colete do Cid. Isso se assemelha a 1982, nos últimos suspiros do coronelismo". O professor complementa: "Parece-me que, com o passar do tempo, a história evoluiu, mas lembra muito esse episódio. Os partidos vão seguir pelo arco de alianças como fizeram naquela época. A ideia era fazer uma repartição dos cargos".
Professor do mestrado em políticas públicas da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Hermano Ferreira aponta que um dos traços da demora na definição do candidato do PROS é a influência da cultura personalista. "Ele quer apresentar uma candidatura para preservar a herança dele mais administrativa do que política", atesta.
O cientista político destaca que tem ficado cada vez mais complicado comportar tantas propostas dentro de um projeto de Governo. "O calendário está se esgotando. Tem um cenário nacional, ele (Cid) está esperando a conjuntura. Vejo com preocupação a ideia desse personalismo. Cada político cria o projeto em função de si próprio e não pensa em algo mais duradouro, consciente", conclui.
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